
Nossa Senhora da Conceição Aparecida
RADIOMENSAGEM DO PAPA PIO XII
AOS BRASILEIROS POR OCASIÃO
DO CONGRESSO MARIANO NACIONAL
NO IV CENTENÁRIO DA CIDADE DE SÃO PAULO (*)
Terça-feira, 7 de Setembro de 1954
Veneráveis Irmãos e amados Filhos
Embora já aí presente na pessoa do Nosso digníssimo Cardeal Legado, anuímos gostosamente
ao desejo por vós expresso, e com todo o afeto do Pai que fala a filhos tanto mais presentes ao
seu espírito e coração, quanto mais distantes no espaço, vos dirigimos a palavra, para assim
convosco e nesse grandioso teatro das Festas Centenárias de São Paulo, engrandecer e
agradecer, homenagear e invocar Nossa Senhora da Conceição Aparecida, excelsa Padroeira de
todo o Brasil e particular glória desse industrioso Estado.
Neste Ano Mariano, em que todo o Mundo Católico com admirável fervor e intenso júbilo celebra
as inefáveis prerrogativas da Imaculada Virgem Mãe de Deus, e sob o Seu Materno Patrocínio se
alista na Cruzada para a restauração de um Mundo melhor, o Brasil católico e mais a nobre
Cidade e Estado de São Paulo têm duplicado e triplicado dever de se assinalar.
Se o Brasil nasceu á sombra da Cruz, organizou-se, cresceu, prosperou amparado sempre pela
Mãe SSma., venerada ternamente e invocada sob numerosos títulos, cada qual mais belo e
expressivo.
Já das três caravelas da armada que levava ás Terras de Santa Cruz o primeiro esboço da sua
organização política, duas aí ficaram como cristalizadas nas duas grandes igrejas da primeira
Capital, Nossa Senhora da Ajuda e Nossa Senhora da Conceição da Praia, à sombra das quais
se haviam de combater e vencer as grandes batalhas, que salvaram a integridade da Pátria e a
unidade da Fé.
E essas duas igrejas, nestes quatro séculos de história, haviam de multiplicar-se em cem
Catedrais e mais de mil Matrizes, para não falar de um sem-número de modestas igrejas e
singelas capelinhas, que têm como orago a Mãe de Deus nalgum de seus mistérios, e constelam
o território brasileiro do Amazonas ao Prata, do Atlântico aos Andes.
Todas elas, mais que venerandos monumentos, são pregões vivos e eloquentes do amor e
devoção do católico Povo Brasileiro à sua Augusta Soberana e da carinhosa proteção com que
Maria o tem assistido em todos os lances, prósperos ou adversos, da sua existência.
Entre os títulos Marianos prevalece o da Imaculada que exorna, com muitos secundários, mais de
trezentos e cinquenta dos templos principais.
E era natural.
Desde os primórdios floresceu em Terras de Santa Cruz a devoção à Imaculada Conceição de
Maria, implantada pelos descobridores.
Mas o seu culto intensificou-se depois que em 1646, por proposta do Monarca Restaurador, que
teve plena confirmação apostólica do Nosso antecessor Clemente X, Nossa Senhora da
Conceição foi aclamada em Cortes «particular, única e singular Padroeira e Protectora » da
Metrópole e de todos os seus Domínios, com juramento de defender, ainda a preço do sangue e
da vida, o Seu Singularíssimo Privilégio, — « na certeza de que os ampare e defenda de nossos
inimigos, com grandes acrescentamentos..., para glória de Cristo nosso Deus, exaltação da nossa
Santa Fé Católica Romana, conversão das Gentes e redução dos hereges ». E para que a
memória de solene Consagração e Juramento se não obliterasse com o tempo, ai ficavam a
recordá-los as Lápides, que em 1654, exatamente há 300 anos, um novo decreto soberano
mandava colocar nas entradas e portas de todas as vilas e cidades ou nos Paços do Conselho,
das quais ainda hoje o Brasil conserva preciosas relíquias. [Vejam-se os Documentos reunidos
em D. Maurício, Iniciativa da Consagração de Portugal a N.° Senhora de Conceição — Brotéria,
vol. XLIII, 1946, pag. 625 ss.].
Neste contínuo florescer de devoção Mariana não podia deixar de assinalar-se a cidade de São
Paulo, que tem por fundador o apostólico Manuel da Nóbrega, primeiro panegirista da Virgem
Medianeira, de que conserva explícita lembrança a história (cfr. Serafim Leite S. J. na Revista da
Universidade Catól. do Rio « Verbum », t. VIII, 1951, pag. 258), e entre os imediatos
colaboradores na fundação venera a Anchieta, o inspirado cantor De Beata Virgine Dei Matre
Maria.
De facto, entre os mais eficazes e expressivos factores da devoção à Mãe de Deus, sobressaem
as Congregações Marianas, verdadeiros vergeis de piedade santificante e apostólica, que nos
volvidos séculos, tanto como hoje, se não mais ainda, floresceram em todo o Brasil. Ora, em
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princípios do século XVIII, a Congregação da Imaculada do Colégio de São Paulo, como consta
de documentos históricos, era celebrada por modelar e a melhor, não só do Estado, mas do Brasil
inteiro (Serafim Leite S. J., História da Companhia de Jesus no Brasil, tom. VI, pag. 352-354).
Precisamente, por esse tempo, aparecia a Imagem de Nossa Senhora da Conceição nas águas
do Rio Paraíba. E quem podia então prever as torrentes de piedade para com a Virgem
Imaculada e as correspondentes catadupas de graças celestes, que o vetusto Simulacro faria
brotar?
Simboliza bem e atesta o progressivo aumento de umas e outras a primitiva ermida, em poucos
anos substituída por espaçosa igreja e sucessivamente ampliada em grandiosa basílica; a qual,
todavia, com o seu riquíssimo tesoiro de inúmeros ex-votos, já se afigura pequena à crescente
piedade dos filhos e devotos da Aparecida; que por isso anseiam e trabalham por construir outra
mais ampla e magnificente, que seja Residência digna da Rainha e Padroeira do Brasil.
Atesta-o a preciosa coroa de oiro, com que, há exatamente 50 anos, por decreto do Cabido da
Santa Patriarcal Basílica Vaticana, foi coroada a taumaturga Imagem, «numa solenidade sem
precedentes na vida católica do Brasil ».
Atesta-o, sobretudo, e com a maior eloquência de factos e palavras, Nosso imediato Predecessor
de imortal memória, quando, há 25 anos, ao constituir Padroeira Principal do Brasil Nossa
Senhora Aparecida, venerada na « sua vetusta e prodigiosa Imagem », declarava que o fazia,
acedendo ao pedido plebiscitário do Episcopado e do Povo Brasileiro, «o qual com fervor e
piedade constantes, desde os anos do Descobrimento das regiões brasílicas até nossos tempos,
tem venerado e venera a Imaculada Virgem Mãe de Deus » (Pii XI Litt. Apost. 16 Julii 1930 - Acta
Ap. Sedis, vol. 23, pag. 7).
Veneráveis Irmãos e amados Filhos ! A simples evocação destes factos, entre tantos que, como
filigrana de oiro, recamam os fastos religiosos do Brasil, se confortam e enchem de suave alegria
a alma, forçam-na a louvar e engrandecer ao Senhor, Fonte manancial de todo o bem, e á Virgem
Imaculada, Medianeira e Dispenseira carinhosíssima das suas graças. Pois que « festejar as
mercês do Céu, reconhecê-las como recebidas da mão de Deus e dar-Lhe infinitas graças por
elas, é a primeira obrigação de fé e a primeira confissão do agradecimento, e são os primeiros
impulsos da alegria cristã e bem ordenada ».
E vós assim o tendes feito, durante todo este Ano Centenário da Imaculada, e o fazeis agora mais
solene e exemplarmente nesse primeiro Congresso Nacional da Excelsa Padroeira e nas triunfais
demonstrações de piedade Mariana que o acompanham.
Estudastes, com bem acertada escolha, as incomparáveis grandezas de Maria, condensadas nos
dogmas da Conceição Imaculada, da Divina Maternidade e da gloriosa Assunção ao Céu.
Assim, o Congresso contribuirá para tornar cada vez mais iluminada e consciente a vossa
piedade, e por conseguinte mais acrisolado o vosso amor, mais profunda a vossa gratidão, mais
firme a confiança na vossa Augusta Rainha e Padroeira e Mãe, que sempre e com tantas provas
do seu carinho vos tem privilegiado. Mas servirá também para melhor vos capacitardes dos
deveres que impõe a nobreza da vossa filial vassalagem, não seja que com os últimos ecos das
solenidades esmoreça o entusiasmo e se desvaneçam os frutos.
Quantos aí de joelhos, aos pés da Imaculada Rainha e Padroeira do Brasil, Lhe jurastes
redobrada fidelidade e amor, é mister que vos levanteis campeões decididos da sua maternal
Soberania, apostados a não descansar, enquanto não A virdes reinar soberana em tudo e em
todos: primeiro em vós mesmos, na própria vida e atividades, como filhos amantes que se
gloriam de imitar as virtudes maternas; depois, em torno de vós, nas famílias, nas classes e
agremiações sociais, e em todas as atividades particulares e públicas; de modo que a vossa
grande Pátria se mostre digna da sua celeste Rainha e Padroeira, assinalando-se nesta grande
Cruzada para um Mundo melhor, que deve ser fruto do Ano Mariano, e com tanto maior valor e
zelo, quanto maior é o influxo que pode exercer em todo o Continente e no consórcio das Nações.
Com estes votos e implorando do Céu sobre vós, sobre a nobre Cidade e Estado de São Paulo, e
sobre todo o Brasil católico, por intercessão de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, todas as
prosperidades espirituais e temporais, Nós vos damos, amados Filhos, como penhor do Nosso
afecto e benevolência paterna, a Bênção Apostólica.
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(*) Discorsi e Radiomessaggi di Sua Santità Pio XII, vol XVI, pág. 107-113.
Copyright © Libreria Editrice Vaticana
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