
São Barnabé curando o doente, por Paolo Veronese
Jonh Francis Fenlon, Enciclopédia Católica
Barnabé
(originalmente José), considerado como apóstolo na Sagrada Escritura, e, como
São Paulo, considerado pela Igreja junto aos Doze, ainda que não um deles; nascido
de pais judeus na ilha de Chipre no início da Era Cristã. Um Levita,
naturalmente passou muito tempo em Jerusalém, provavelmente antes da crucifixão
de Nosso Senhor, e parece ter-se radicado aí (donde sua parentela, a família do
Evangelista Marcos, também tinha seus lares, Atos, XII, 12) e possuir algumas
terras vizinhas (IV, 36-37). Uma antiga tradição registrada por Clemente de
Alexandria (Strom., II, 20, P.G., VIII, col. 1060) e Eusébio (H. E., II, i, P.
G., XX, col. 117) diz que era um dos setenta discípulos ; mas nos Atos (IV,
36-37) se favorece a opinião de que se converteu à cristandade pouco depois de
Pentecostes (por volta do ano 29 ou 30 d.C.) e imediatamente vendeu suas
propriedades e entregou os lucros à Igreja. Os apóstolos, provavelmente devido
a seu êxito como pregador, uma vez que posteriormente ele seria colocado em
primeiro lugar entre os profetas e doutores de Antioquia, chamaram-no Barnabé, um
nome cuja interpretação de então era “filho da exortação” ou “consolação”. (A etimologia real, entretanto, está em
disputa, veja-se Encyl. Bibli., I, col. 484). Ainda que não se registre nada
sobre Barnabé durante alguns anos, evidentemente adquiriu durante esta época uma
alta posição dentro da Igreja.
Quando
Saulo “o perseguidor”, posteriormente Paulo Apóstolo, realizou sua primeira
visita (aproximadamente entre 33 e 38 d.C.) a Jerusalém depois de sua
conversão, a Igreja, recordando antiga forma de ser dele, teve dúvidas em crer
na realidade de sua conversão. Barnabé o apoiou e fez que fosse recebido pelos
apóstolos, como o relatam os Atos (IX, 27), ainda que apenas tenha se reunido
com Pedro e Tiago, o irmão do Senhor, de acordo com o mesmo Paulo (Gálatas I 18-19).
Saulo foi enviado a seu lar em Tarso para viver na obscuridade durante alguns
anos, enquanto Barnabé parece ter permanecido em Jerusalém. O evento que os voltou
a reunir e lhes abriu a porta a ambos para sua obra principal foi o resultado
indireto da mesma perseguição de Saulo. Na
dispersão que seguiu à morte de Estevão, alguns discípulos do Chipre e Cirene
fundaram a missão real da Igreja Cristã mediante a pregação aos gentios.
Tiveram um grande êxito entre os gregos e em Antioquia, na Síria, de cujas notícias,
ao chegarem aos ouvidos dos apóstolos, fizeram que Barnabé fosse enviado àquele
lugar para investigar o trabalho de seus moradores. Viu nos frutos de ditas
conversões a graça de Deus e, ainda que fosse judeu, deu as boas-vindas de
coração a estes primeiros gentios convertidos. Sua mente se abriu ao instante
da possibilidade deste imenso campo. Prova da profunda impressão que Barnabé
havia tido de Paulo foi que pensou nele imediatamente para esse trabalho,
dispôs-se a ir sem demora até a distante Tarso, e persuadiu Paulo que o
acompanhasse a Antioquia para iniciar o trabalho de pregação. Este incidente,
dá uma ideia sobre o caráter de cada um, mostra que não foi um mero acidente
que os guiou até o campo dos gentios. Juntos trabalharam em Antioquia por todo
o ano e “ensinaram a uma grande multidão”. Então com a vinda da fome, pela qual
Jerusalém estava muito afligida, as oferendas dos discípulos de Antioquia foram
levadas (por volta de 45 d.C.) à igreja-mãe por Barnabé e Saulo (Atos XI).
Terminada sua missão, regressaram a Antioquia levando com eles o primo, ou sobrinho,
de Barnabé (Colossenses IV, 10), João Marcos, o futuro Evangelista (Atos XII,
25).
O
fruto estava maduro, pensava-se, e mais trabalhos sistemáticos, e a Igreja de Antioquia
sentiu uma inspiração do Espírito Santo para enviar missionários ao mundo dos
gentios e a comissionar o trabalho a Barnabé e Paulo. Prepararam-se para
partir, depois da imposição de mãos, junto a João Marcos como ajudante. Chifre,
a terra natal de Barnabé, foi evangelizada primeiro, e logo cruzaram Ásia
Menor. Aqui, em Perge, na Panfília, a primeira escala. João Marcos os deixou, e
razão disso seu amigo São Lucas não faz menção, ainda que Paulo tomasse o fato
como uma deserção. Os dois apóstolos, todavia, adentrando-se em um país mas que
rebelde, pregaram em Antioquia da Pissídia , Icônio, Listra, em Derbe, e outras
cidades. A cada passo encontraram com a oposição e inclusive uma violenta
perseguição pelos judeus, os quais incitavam os gentios serem contrários. O
incidente mais sobressalente da viagem foi em Listra, onde o povo supersticioso
confundiu Paulo, que havia sanado um homem lesionado, com Hermes (Mercúrio) “por
ser o que falava”, e Barnabé como Júpiter, esteve a ponto de sacrificar a eles
um touro antes de ser prevenidos pelos apóstolos. A multidão logo foi
persuadida pelos judeus para voltar e atacar os apóstolos e feriram São Paulo
quase fatalmente. Apesar da oposição e da perseguição, Paulo e Barnabé trouxeram
muitos à conversão nesta viagem e regressaram pela mesma rota a Perge,
organizando as igrejas, ordenando presbíteros e encarregando-os dos fiéis, de
modo que sentiram, a regressar a Antioquia na Síria, que Deus havia “aberto a
porta da fé aos gentios" (Atos, XIII, 13; XIV, 27; veja-se artigo SÃO PAULO).
Barnabé
e Paulo estiveram "por não pouco tempo" em Antioquia, quando se lhes
ameaçou com desfazer sua obra e deter seu avanço. Chegaram pregadores de
Jerusalém com a notícia de que a circuncisão era necessária para salvação,
inclusive para os gentios. Os apóstolos dos gentios, percebendo imediatamente
que essa doutrina seria fatal para sua obra, foram a Jerusalém para combatê-la;
os apóstolos velhos os receberam com agrado naquilo que se denominou o Concílio
de Jerusalém (com data aproximada entre 47 e 51 d. C.) concederam a decisão a
seu favor bem como o elogio vigoroso de seu trabalho (Atos, XIV, 27--XV, 30; ver artigos CONCÍLIO DE
JERUSALÉM; SÃO PEDRO). De
regresso a Antioquia, retomaram a pregação por curto período. São Pedro veio e
se relacionou livremente com os gentios, comendo com eles. Isso desagradou alguns
discípulos de São Tiago; em sua opinião, os atos de Pedro eram reprováveis,
indo de encontro à Lei Mosaica. Diante da censura, Pedro aparentemente
rendeu-se por temor de desagradá-los, e se recusou a seguir comendo com
gentios. Barnabé seguiu seu exemplo. Paulo considerou que eles “não andavam direitamente,
segundo a verdade do Evangelho” e os repreendeu diante de toda Igreja (Gálatas II
11-15). Parece que Paulo conseguiu seu cometido. Um pouco depois, ele e Barnabé
decidiram retomar suas missões. Barnabé queria levar de novo com eles João Marcos,
mas tomando em conta sua deserção anterior, Paulo se opôs. Depois de uma aguda
contenda, os apóstolos decidiram separar-se. De alguma forma Paulo estava
influenciado pela recente atitude adotada por Barnabé, que poderia provar uma
predisposição em direção à sua obra. Barnabé navegou com o João Marcos ao
Chipre, enquanto Paulo levou Silas e retomou as igrejas da Ásia Menor. Alguns
creem que a Igreja de Antioquia, ao despedir-se de Paulo, mostrou aprovação por
sua atitude; nesta inferência, contudo, não há certeza (Atos, XV 35-41).
Conhece-se
pouco da carreira posterior de Barnabé. Seguia vivendo e trabalhando como
apóstolo no ano 56 ou 57, quando Paulo escreveu a I Coríntios (IX, 5-6) na qual
se lê que ele, também, como Paulo, ganhava seu próprio sustento, ainda que numa
igualdade com outros apóstolos. A referência indica também que a amizade entre
ambos estava intacta. Quando Paulo esteve prisioneiro em Roma (61-63), João
Marcos estava junto a ele como discípulo, o que se toma como indicativo de que
Barnabé já não vivia (Colossenses IV 10). Isto parece provável.
Várias tradições o representam como primeiro bispo de Milão, pregando em Alexandria e Roma, de quem o quarto (?) Bispo, São Clemente, disse que se converteu, e ver sofrido o martírio no Chipre. As tradições são tardias e pouco fiáveis.
Com exceção de São Paulo e alguns dos Doze, Barnabé parece ser um dos homens mais estimados da primeira geração cristã. São Lucas, rompendo seu hábito de recato, fala dele com afeto, “era um bom homem, cheio do Espírito Santo e de fé”. Seu título de glória vem não apenas pela benevolência de seu coração, sua santidade pessoal, e seu trabalho missionário, mas também por sua prontidão para deixar de lado seus preconceitos judeus, nesta espera certa dos Doze; de sua bem-vindo desprendimento dos gentios, e da precoce percepção do valor de Paulo, da qual a Igreja Cristã está em dívida, em grande parte ao menos, com este grande apóstolo. Sua ternura a João Marcos parece haver sido recompensada nos valiosos serviços depois prestados por ele à igreja.
A festa de São Barnabé se celebra em 11 de junho. Tertuliano (provavelmente com falsidade) o aponta como sendo o autor da carta aos hebreus, e muitos padres e atribuem a ele a chamada Carta de Barnabé.
_____________________________________________
Fonte: Fenlon, John Francis. "St. Barnabas." The Catholic Encyclopedia. Vol. 2. New York: Robert Appleton Company, 1907. 10 Jun. 2018 <http://www.newadvent.org/cathen/02300a.htm>.
Várias tradições o representam como primeiro bispo de Milão, pregando em Alexandria e Roma, de quem o quarto (?) Bispo, São Clemente, disse que se converteu, e ver sofrido o martírio no Chipre. As tradições são tardias e pouco fiáveis.
Com exceção de São Paulo e alguns dos Doze, Barnabé parece ser um dos homens mais estimados da primeira geração cristã. São Lucas, rompendo seu hábito de recato, fala dele com afeto, “era um bom homem, cheio do Espírito Santo e de fé”. Seu título de glória vem não apenas pela benevolência de seu coração, sua santidade pessoal, e seu trabalho missionário, mas também por sua prontidão para deixar de lado seus preconceitos judeus, nesta espera certa dos Doze; de sua bem-vindo desprendimento dos gentios, e da precoce percepção do valor de Paulo, da qual a Igreja Cristã está em dívida, em grande parte ao menos, com este grande apóstolo. Sua ternura a João Marcos parece haver sido recompensada nos valiosos serviços depois prestados por ele à igreja.
A festa de São Barnabé se celebra em 11 de junho. Tertuliano (provavelmente com falsidade) o aponta como sendo o autor da carta aos hebreus, e muitos padres e atribuem a ele a chamada Carta de Barnabé.
_____________________________________________
Fonte: Fenlon, John Francis. "St. Barnabas." The Catholic Encyclopedia. Vol. 2. New York: Robert Appleton Company, 1907. 10 Jun. 2018 <http://www.newadvent.org/cathen/02300a.htm>.
[Segue abaixo oração ao santo por ocasião de sua festa, a 11 de junho, extraída do Missale Romanum, 1943]
OREMOS
Ó Deus, que nos alegrais pelos merecimentos e intercessão do bem-aventurado Barnabé, vosso Apóstolo, fazei, por vossa misericórdia, que, pedindo-Vos, por suas preces, os benefícios, os alcancemos da vossa graça. Por Nosso Senhor Jesus Cristo.
OREMUS
Deus, qui nos beáti Bárnabæ Apóstoli tui méritis et intercessióne lætíficas: concéde propítius; ut, qui tua per eum benefícia póscimus, dono tuæ grátiæ consequámur. Per Dóminum Nostrum Jesum Christum.